quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Ginga Genipapo

Aquela guitarrinha ranheta
Debochada disbocada
My Generation
Satisfaction
Aquela mina felina
Cuba sarro cocaína
Do You Wanna Dance
Don’t Let Me Down
Aquela ginga genipapo
Elástica solta rasteira
I’m Free
Like a Rolling Stone
Aquela ginga genipapo
Cheiro de porrada no ar
Street Fighting Man
Jumping Jack Flash
Aquele som de fuder
Orelhas pra que ti quero
Who Knows
Straight Ahead
Chacal
"Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo"

Drummond

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Espero que por esse caos, eu ouça um sim

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ah, Clarice


Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje
repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva.
Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num
conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar,
pois nada o substitui. E é uma salvação.
Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se
escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria
apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.
Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a “coisa” vem. Fico assim à mercê do tempo. E, entre um verdadeiro
escrever e outro, podem-se passar anos.
Lembro-me agora com saudade da dor de escrever livros.

Clarice Lispector

sábado, 6 de julho de 2013

Você, você




"Que roupa você veste, que anéis? Por quem você se troca? Que bicho feroz são seus cabelos, que à noite você solta? De que é que você brinca? Que horas você volta? Seu beijo nos meus olhos, seus pés, que o chão sequer não tocam. A seda a roçar no quarto escuro, e a réstia sob a porta. Onde é que você some? Que horas você volta? Quem é essa voz? Que assombração seu corpo carrega? Terá um capuz? Será o ladrão? Que horas você chega? Me sopre novamente as canções, com que você me engana. Que blusa você, com o seu cheiro, deixou na minha cama? Você, quando não dorme, quem é que você chama? Pra quem você tem olhos azuis, e com as manhãs remoça. E à noite, pra quem você é uma luz debaixo da porta? No sonho de quem você vai e vem, com os cabelos que você solta? Que horas, me diga que horas, me diga, que horas você volta?

Chico Buarque

domingo, 30 de junho de 2013

Eu gosto é da brasa e de tudo que espanta a vida, vez ou outra, rasa.

domingo, 31 de março de 2013

A Saudade

Onde mora o pecado,
mora sempre a saudade
do amor proibido
que não continuou.

Onde mora a virtude
também mora a saudade
do amor impossível,
do amor incompreendido,
do amor que está longe,
do amor que falhou ou do que feneceu.

Outro amor,
o ciúme,
algo estranho,
uma coisa qualquer
cortou a felicidade,
partiu os corações.

A saudade dorme, em silêncio,
mas sempre desperta.
A recordação a gente afasta quando quer.
A saudade é diferente,
ela volta de manso
e a gente não pode com ela.

(Carlos Marighella)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Os Anos Inocentes

"O álcool é uma merda, eu sei muito bem o que é isto. A gente bebe pra anestesiar os sentidos, quando as porradas da vida betem com força demais. Até aí o álcool é bom, faz bem, relaxa. Depois, o álcool entra na vida da gente, entra no sangue da gente. Aí a vida da gente, que era uma merda, vira uma merda sem rumo, sem esperança de conserto."

Anos Rebeldes

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vontade

Mas a vontade só foi uma ideia
Uma ideia sem língua
Que permaneceu calada na garganta

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Balada do Amor Através da Idades

Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei, brigamos, morremos.


Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.


Depois fui pirata mouro,
flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
onde você se escondia
da fúria de meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal-da-cruz
e rasgou o pito a punhal..
Me suicidei também.


Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles,
espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira..
Pulei o muro do convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.


Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos.

Carlos Drummond de Andrade